Um sistema chamado Família
Todos nós estamos interconectados!
De repente, uma visita ilustre chega afetando o dia a dia do lar e promovendo reações diversificadas: a empregada suspira preocupada com mais serviços que virão, diante da “surpresa” que aportou na casa; o filho de 3 anos diz que não vai deixar ninguém entrar na sua casa; a mãe promove os últimos retoques no aposento que abrigará o “chegante”, ansiosa de ver que ele não se comunica explicitamente; a adolescente sorri, entusiasmada, voltando à sua infância, quando brincava com as bonecas; uma nova funcionária, recém-contratada, exulta porque conseguiu emprego naquele lar; o pai, introspectivo, contabiliza seus rendimentos, avaliando se dará vencimento às novas contas que aparecerão; os avós mal conseguem disfarçar a alegria que transborda; os vizinhos cogitam se dormirão bem com a presença do visitante que está se alocando ao lado; o cachorro late, sem que se decifre o que acontece no mundo íntimo daquele animal, em face da nova personagem que aterrissou no lar; o filho de 6 anos revela agressividade e choraminga, aparentemente sem motivos, bem como volta a urinar na cama, em sinal de protesto inconsciente.
Enfim, são mil sentimentos contraditórios e demandas novas que surgem na família, em razão de um ilustre visitante que polariza a atenção de todos.
Em verdade, é a chegada de um rei… sua majestade, o bebê!
As enormes sequoias aparentemente invulneráveis, mesmo à larga distância do centro urbano da Califórnia, são afetadas pelas micropartículas de poluentes lançados na atmosfera da elegante cidade.
A notícia de um evento pontual, veiculada pela internet, varre o Planeta em poucas horas, alcançando um público de centenas de milhares de internautas, como sucedeu com a cantora escocesa Susan Boyle por ocasião da sua apresentação num programa britânico de calouros e que, de imediato, foi postado no YouTube.
A segurança aeroportuária vê-se constrangida a mudanças radicais pelo mundo inteiro, logo após uma única ocorrência, tal como sucedeu com aquela que derrubou as Torres Gêmeas.
A economia do mundo global se ressente desde a urbe mais cosmopolita até a aldeia mais interiorana, em razão das decisões tomadas pela política financeira de uma única nação, qual a que se deu no crash da Bolsa de Valores em 1929, nos EUA, ou como recente colapso do Sistema Financeiro Habitacional norte-americano, ou, ainda, no declínio da economia da Grécia.
Uma sucessão de revoluções se estabeleceu por vários países, avançando além das fronteiras continentais, após a primeira ser deflagrada, como sucedeu com a Primavera Árabe que estourou na Tunísia, no norte da África, para em seguida ir se alastrando pelos países árabes com regime ditatorial…
A queimada mais despretensiosa que vai “comendo” a floresta Amazônica na linha do Equador chega até as calotas polares do Planeta, contribuindo para o aumento de seu degelo, em decorrência do efeito estufa que atinge a Terra inteira.
Uma fissão atômica se irradia destrutivamente, afetando toda uma comunidade, qual aquela que se efetivou em Hiroshima e Nagasaki, eliminando aproximadamente 120 e 70 mil pessoas, respectivamente.
Assim como a ocorrência de um único evento, quais os exemplos citados envolvendo o átomo, a floresta, a arte, a segurança, a economia, a revolução social etc. é capaz de se alastrar por toda uma comunidade, por um pais, por um continente, e, por extensão, afetar a Terra inteira, também a família – nossa micro Terra – se ressente de modo sistêmico, de conformidade com tudo o que acontece interna e externamente na dinâmica do lar.
Interiormente, a família tem seu funcionamento afetado pelo que cada membro faz, na sua relação consigo mesmo e na interação com cada participante do seu lar, em regime de reciprocidade.
Cada pessoa influencia e é influenciada por tudo e por todos os que permeiam a teia familiar nos seus aspectos mais diversificados: da presença ou não de animais até as influências espirituais; dos móveis às condições do imóvel; dos vizinhos até a infraestrutura do bairro; dos valores culturais até as posses econômicas; dos conteúdos intelectuais aos princípios morais…
Quanta diferença no lar se estabelece se a edificação é mal arejada, sem iluminação solar e muito abafada; ou se é espaçosa, ventilada, ajardinada…
Que interferência gera para a família se a vizinhança é civilizada, solidária e respeitosa; ou se, ao contrário, é grosseira, egoísta e desrespeita as pequenas regras sociais no que tange ao uso dos espaços comuns, ao volume dos ruídos, ao acondicionamento do lixo…
Quão difícil será cuidar dos filhos, se família não tiver assegurado o seu direito de acesso à saúde básica e à escolarização para seus membros; ou ainda, caso os pais trabalhem em subempregos e cujos proventos econômicos são insuficientes para prover os mínimos requisitos sociais da prole…
Tudo está interconectado no universo doméstico.
Não se pode desconsiderar que um bebê, ao nascer, altera globalmente o movimento de um lar; um avô enfermando repercute em todos os membros da casa; um pai ausente afeta a prole inteira; uma mãe amorosa beneficia a todos os que vivem sob o mesmo teto; um jovem que se deprime impacta toda a parentela; uma criança graciosa banha, na sua graça, toda a família; um dependente químico mobiliza todos os componentes da habitação doméstica; uma avó orando esparge luz para quantos desfrutam da sua convivência…
É impossível impedir as interferências positivas ou negativas decorrentes da movimentação de cada membro no conjunto familiar, posto que tudo que se pense ou sinta, se diga ou se faça terá repercussões correspondentes nos outros que lhes compartilham a existência, cuja assimilação ou não das influências se dará de conformidade com as possibilidades e escolhas de cada um e segundo as circunstâncias de vida, subordinadas que estão à Lei de Causa e Efeito.
Deste modo, a vida funciona sistematicamente. Tudo está ligado, e por isso mesmo pode-se dizer poeticamente que quando o pirilampo cintila a estrela responde; ou, como afirmam os físicos, que quando a borboleta movimenta suas asas, as montanhas estremecem.
De idêntica maneira, o que não dizer das repercussões de uma fala amorosa feita por um coração compassivo, dirigida a um familiar angustiado diante de um conflito grave? Quem pode dimensionar o impacto causado por um gesto de amor-sacrifício de um pai dedicado, lidando com um filho em perigo de morte? É possível aferir os benefícios do exercício da paciência dos pais perante um filho hiperativo? Como avaliar o efeito das lágrimas silenciosas de uma mãe que ora por um filho que desencarnou subitamente? Qual instrumento poderá mensurar a atitude de renúncia de um avô que se esforça por ter mais tempo na vida física, a fim de minimizar a dor de um neto jogado ao abandono pelo descuido dos pais? Como estimar a gratidão de um filho que se devota ao pai tomado por Alzheimer? Quem ousa aquilatar os efeitos espirituais na psicosfera do lar após uma reunião de estudo do Evangelho e de oração em família? E, finalmente, como medir o impacto energético e social de uma família saudável na construção de uma nova ordem para a harmonia das nações?
“E assim que tudo serve, que tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, que também começou por ser átomo. Admirável lei de harmonia, que o vosso acanhado espírito ainda não pode apreender em seu conjunto!”3
3 O Livro dos Espíritos. Resposta à questão 540.
(Almeida, Alberto. Pais e filhos fortalecendo vínculos – Fortaleza: Premius, 2014. págs 21 a 27.)