Posted by: SEF

Conflitos entre o sistema Conjugal e Parental

A esposa e/ou mãe – Será que eu sou mais mãe ou eu sou mais esposa?

Ele desabafava com um amigo, na expectativa de encontrar uma solução para o seu problema:

— Eu estou entre a minha noiva e a minha mãe, que não conseguem coabitar mais de um fim de semana sem deflagrarem a terceira guerra mundial.

Depois que meu pai morreu de leucemia, há 4 anos, eu fiquei cuidando da minha mãe que é, ainda, muito jovem, tendo somente 45 anos, e todas as vezes que ventilo a possibilidade de sair de casa para formar o meu lar, ela me diz: “Você tem coragem de me abandonar? O seu pai deixou você no lugar dele. Você é o meu filho único, o meu companheiro!”

E quando digo que preciso casar, ela passa mal, chora, fica deprimida…

A minha futura esposa vem, há 2 anos, se cansando de me cobrar o casamento e a consequente mudança para o nosso apartamento que já adquirimos, mas…

Outro conflito muito frequente no exercício dos papéis e das suas respectivas funções está na interação dos subsistemas conjugal e parental e, mais frequentemente, na movimentação da mulher em suas atribuições como esposa e mãe.

Como esposa, ela deve corresponder às demandas inerentes ao relacionamento com o esposo, assegurando, em regime de reciprocidade, a estabilidade do subsistema conjugal (esposa-esposo); como mãe, precisa desempenhar as atividades maternais, garantindo a harmonia do subsistema parental (mãe-filho).

Deste modo, a mulher deve buscar atender aos dois papéis (esposa e mãe) com equilíbrio, a fim de não comprometer uma ou ambas as funções, caso não saiba dosar adequadamente, balanceando a conjugalidade e a maternidade.

É comum observarem-se dois movimentos disfuncionais dentro do lar, gerando conflito entre os subsistemas mencionados.

1. A mulher-mãe em detrimento da mulher-esposa

Um deles se dá quando a mulher se inclina demasiadamente para a maternidade, e deixa uma lacuna no acasalamento, não atendendo à parceria com o esposo de forma satisfatória. Tal atitude pode gerar um distanciamento do parceiro, a ponto de criar uma vulnerabilidade capaz de ameaçar a estabilidade do relacionamento.

É nessa fase que, se não houver diálogo aberto e abundante sobre o conflito apresentado, com a explicitação do comportamento inadequado e de suas motivações, podem despontar como consequência: dúvidas no esposo sobre a cumplicidade amorosa da companheira; ciúme em relação à esposa com os filhos, seguido de rejeição à esposa ou aos filhos; carência no parceiro, deixando-o exposto ao apaixonamento por outras mulheres, podendo ou não desaguar em relacionamentos extraconjugais; experiências estritamente sexuais podem surgir fora do casamento etc. Tudo isso varia em função das escolhas que o parceiro faz, em face de cada circunstância, e a depender dos valores educativos e princípios morais que regem o comportamento do homem e do lastro afetivo com que foi estruturada a convivência conjugal.

Ademais, tudo isso tomará contornos mais cinza, se considerarmos que a reencarnação nos traz dentro do lar, habitualmente, triangulações amorosas passionais do passado, para que no presente se possam realinhar comportamentos lesivos de outrora, agora reclamando novas escolhas, mais lúcidas e mais éticas, em reajustes inadiáveis por meio dos papéis de pais e filhos.

Portanto, é comum o filho e o pai serem os mesmos espíritos que conflitaram na disputa pela mesma mulher — a mãe e a esposa de hoje — em tempos outros, em clima de tensão e hostilidade, quando a ética consciencial foi sacrificada, a fim de se lograr alcançar o objetivo cobiçado, às vezes em cumplicidades e conluios inconfessáveis. Em idênticas circunstâncias surgem problemas-desafios nos reencontros de almas, nesta existência catalogadas como pai, mãe e filha, reagrupadas na teia familiar, em busca de solução para questões pendentes que ficaram guardadas nas consciências, aguardando o tempo adequado ao ressarcimento de delitos morais perpetrados em outras eras.

Em todas essas ocorrências, o lar é convidado a enfrentar as dificuldades para o equacionamento dos conflitos envolvendo subsistemas, valendo-se de um olhar que considere a problemática doméstica ultrapassando o complexo de Édipo/Electra.

2. A mulher-esposa em detrimento da mulher-mãe

Outra movimentação igualmente imprópria acontece quando a mulher se inclina exageradamente na direção do esposo, em detrimento da sua relação com os filhos, deixando-os semiabandonados, posto que ela prioriza investir no parceiro conjugal, a tal ponto que sobram apenas migalhas para os filhos.

As consequências negativas são inevitáveis para a prole, uma vez que há uma atenção demasiada dispensada ao subsistema conjugal em desfavor do subsistema parental, daí podendo surgir como decorrência que os filhos passem a apresentar, pela própria imaturidade, consciente ou inconscientemente, a sensação de estarem sendo abandonados pela mãe e, por extensão, pelo pai; a experimentar o afastamento da mãe como uma rejeição à sua própria pessoa; a interpretar que eles não têm valor nem graça e, por isso, a mãe prefere o pai; a sentir raiva do pai por ter-lhe roubado a mãe, subtraindo-lhes a convivência maternal; a agredir a mãe ou o pai por motivos banais; a alterar negativamente seu comportamento na escola, inclusive com diminuição do aprendizado…

Em seguida, como de fato há certo descompasso no atendimento às necessidades filiais, em razão de a mãe alocar excessivo tempo ao seu esposo, em detrimento da prole, os filhos passam a procurar fora de casa os pais de que não dispõem de modo satisfatório. Ficam, assim, com o decorrer dos anos, em vulnerabilidade às perigosas arremetidas externas, num mundo cheio de apelos; às investidas das más companhias; das drogas ilícitas; das vinculações afetivas neuróticas; do etilismo; do casamento precipitado e de outros tantos “mães e pais”, na busca vã de suprir o que lhes faltou ao longo da sua trajetória infantil, bem como na ânsia inglória de resolver os conflitos que foram surgindo devido ao distanciamento dos seus pais.

Claro que tudo o que foi dito em relação à mulher, no desempenho disfuncional dos papéis de esposa e mãe, também se aplica à figura do homem na atuação como esposo e pai. Apenas o destaque foi dado para o gênero feminino em razão de esses conflitos terem nele maior prevalência. Entretanto, ainda assim, o problema, que é mais frequente na mulher, sempre afetará o sistema inteiro e será de responsabilidade dos adultos.

Por tudo o que foi assinalado, fica consagrado que a mulher e o homem podem e devem manter muita atenção na harmonização da aplicação das energias amorosas, de modo a garantir o equilíbrio entre os subsistemas conjugal — parental, assegurando a adequada funcionalidade da família propiciadora da união do lar e do desenvolvimento dos seus membros de per si.

Salvo em situações de exceção no encaminhamento de soluções para problemas dolorosos, em geral, no lar, não se trata de optar entre o subsistema conjugal ou o subsistema parental, mas sim de aditar, de somar as transações emocionais envolvendo esposo/esposa e mãe/filho ou pai/filho e, deste jeito, configurando a normalidade na dinâmica da família.

Pergunta: “Será uma virtude o amor materno, ou um sentimento instintivo, comum aos homens e aos animais?”Resposta: “Uma e outra coisa. A Natureza deu à mãe o amor a seus filhos no interesse da conservação deles. No animal, porém, essa amor se limita às necessidades materiais; cessa quando desnecessários se tornam os cuidados. No homem, persiste pela vida inteira e comporta um devotamento e uma abnegação que são virtudes. Sobrevive mesmo à morte e acompanha o filho até no além-túmulo. Bem vedes que há nele coisa diversa do que no amor do animal.”7

7 O Livro dos Espíritos, questão 890.
(Almeida, Alberto. Pais e filhos fortalecendo vínculos – Fortaleza: Premius, 2014. págs 47 a 53.)

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