O Subsistema Fraternal
Nesta encarnação, vocês são nossos filhos!
Os irmãos estavam distantes, demonstrando as dificuldades da família nas suas interações afetivas. Havia uma necessidade fundamental de aproximar e melhorar a convivência entre os filhos, como parte do tratamento da família adoecida. Visando aumentar o convívio dos irmãos, o profissional propôs uma tarefa ao mais velho, em relação à irmã mais nova.
Quando o jovem voltou à sessão, o terapeuta perguntou:
– Como foi a sua aproximação de sua irmã?
O jovem respondeu:
– Foi ótima! Eu entrei pela internet com um ícone e a descobri escondida atrás de um ícone; então comecei a conversar com ela sem que ela soubesse que era eu quem teclava.
– E aí? — indagou o psicoterapeuta.
– Ah! Depois de uns dias, eu lhe disse que era eu quem estava se comunicando diariamente através de um fake (falso).
O cuidador questionou:
– E onde ela estava quando você conversava com ela?
– No seu quarto, em frente ao meu, noutro computador — disse o rapaz.
O terapeuta, então, sinalizou:
– Parece que está faltando um novo “provedor” para vocês poderem se encontrar sem o uso das máscaras virtuais!… Que tal abrir a porta de seu quarto, dar um passo e `teclar’ a porta do quarto dela? E, quando ela abrir, dizer-lhe: `Olá, mana!’
O subsistema fraternal (formado pelos filhos) se compõe quando nasce o segundo filho, deste jeito estabelecendo o último subsistema da família, aquele formado pelas interações fraternais, ou seja, relacionamento entre os irmãos.
Nesse âmbito, surge a oportunidade do exercício de algumas competências proporcionadas pelas transações entre os filhos, que permitirão, sob a supervisão dos pais, o cultivo de muitas virtudes. Assim sendo, na fase infantojuvenil há campo fértil para se desenvolver a socialização, a solidariedade, a empatia, a cumplicidade, o perdão, o diálogo, a humildade, o respeito, a justiça, a brandura, a afetividade…
Os pais devem proporcionar aos filhos um espaço de convivência no qual estes aprenderão, pelo treino no cotidiano, os talentos e habilidades inerentes à arte de viver. Assim sendo, os filhos vão se tornando mais independentes e assegurando maior autonomia, à proporção que forem treinando e experimentando, entre si, a:
- dialogar até a exaustão para resolver os seus confli-tos, que emergem naturalmente pela convivência;
- exercer a honestidade através das atividades lúdicas e das disputas desportivas;
- solidarizar-se perante o insucesso de um dos irmãos, ou, então, a celebrarem a vitória em presença de um obstáculo superado por um dos seus pares;
- perdoar pelo hábito cultivado de pedir e de aceitar desculpas, à medida que surgem os erros de conduta na co-abitação em família;
- desenvolver a autenticidade pela aceitação recíproca do modo singular de ser de cada um dos irmãos;
- respeitar as diferenças (de opinião, de humor, de crença, do jeito de ser) que se revelam no relacionamento do dia a dia;
- socializar os talentos inatos que trazem como bagagem espiritual conquistada em outras existências;
- tratar as emoções (medo, raiva, tristeza etc.) no contato com os outros irmãos, que servem de espelhos para aquele que tem dificuldades em manejar este ou aquele sentimento;
- etc.
Enfim, inúmeras competências de ordem intrapessoal, interpessoal e grupal serão desenvolvidas a partir do relacionamento entre os irmãos, caso haja um bom enquadramento por parte dos pais que devem, permanentemente, acompanhar seus filhos, ora mais distantes, ora mais próximos. Isto a fim de fazerem intervenções educativas, quando forem necessárias, seja estabelecendo as adequadas reflexões elucidativas por meio do diálogo fecundo, seja mediante as atuações junto aos filhos, quando estes não conseguirem encaminhar de forma equilibrada as questões e os desafios que surgirem, tais como conflitos, impasses, pendências etc., ou quando as demandas excederem a capacidade e autonomia das crianças ou dos adolescentes em foco. Tudo o que for vivenciado na faixa etária infantojuvenil será exportado para a vida social comum. Serão os aprendizados educativos feitos em família que nortearão o comportamento dos filhos quando estes atingirem a idade madura. Portanto, é de importância capital a dinâmica do relacionamento entre os filhos (subsistema fraternal), em que muito daquilo que será apresentado na idade adulta dirá respeito ao que foi vivenciado, de positivo ou de negativo, neste espaço de interação fraternal (relação entre irmãos); daí a imprescindibilidade da supervisão dos pais, no ambiente relacional entre os filhos, posto que seja a partir do manejo dos genitores intervindo, quando necessário, pelo discurso e sobretudo pelo exemplo, que serão insculpidos os valores e os princípios nas almas que Deus lhes confiou aos cuidados.
Pergunta: “Nenhuma influência exercem os Espíritos dos pais sobre o filho depois do nasci-mento deste?”
Resposta: “Ao contrário: bem grande influência exercem. Conforme já dissemos, os Espíritos têm que contribuir para o progresso uns dos outros. Pois bem, os Espíritos dos pais têm por missão desenvolver os de seus filhos pela educação. Constitui-lhes isso uma tarefa. Tornar-se-ão culpados, se vierem a falir no seu desempenho.”6
6 O Livro dos Espíritos, questão 208.
(Almeida, Alberto. Pais e filhos fortalecendo vínculos – Fortaleza: Premius, 2014. págs 41 a 46.)